sábado, julho 18

Lembrança.

Enquanto contemplo o silêncio da tua voz, a única que ressoa no que de mais íntimo há em mim, tropeço na armadilha que me oferece o fragmento do mundo que percebo pelos sentidos. Enquanto espero essa espera amarga das horas que se desfazem para o reino indefinido da memória, minha visão te procura em vão nas representações estáticas e mortas da comédia dos dias.
Até quando essa ânsia? Até quando essa aflição da incerteza de te encontrar?
Porque o que em mim eu cultivo é nada sem o teu olhar que o faz medrar; e o espaço que consegui escavar na caverna do que tu me deste a conhecer é pura e densa pretidão sem a luz da tua compreensão que me revela os detalhes da minha própria mágoa e derruba em terra o senso que tenho de mim mesmo, abrindo meus olhos para os teus.
E a beleza que em ti eu vislumbro excede à da galáxia de lágrimas que o sofrimento de todos os tempos cristalizou em teu oferecimento. E o que o teu olhar me revelou, jamais a reverência de coração algum pôde alcancar; pois tu, na tua limpidez, estendeste tua mão a mim, que andava sem consolo na cidade construída pela solidão, e me fizeste lembrar o que em meu coração fora esquecido através dos anos de sombra.

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