quarta-feira, novembro 4

Melivre.

Como as estações efêmeras desse quebra-cabeça do mundo que se apresenta emoldurado em cada uma das paredes do quarto trancado dos meus sentidos, assim sou eu, arrastado pelo vento grosseiro dos sentimentos fugazes que visitam de quando em quando a minha alma, para os quais eu, com tanto asseio, havia preparado o aposento; escravizado pelo calor sujo que aos poucos queima meu coração como a um pedaço de bombril amarrado na ponta de um barbante, que a curiosidade, vestindo a fantasia da inocência, gira em torno de si, distribuíndo esplendorosas faíscas, abundantes como uma cachoeira de luz que escorre do manancial do meu peito, direto para o ralo da cinza do tempo. Não posso mais observar esse malabarismo de imagens que tomam conta da minha vontade. Não quero mais me deixar levar pelo furor desse redemoinho que me serve só como tropeço. Agora, agora é o momento em que eu me entrego. Tu, que agora aqui me vê, a ti eu me entrego. Não quero mais a mim, quero a ti. Que o meu amor por ti seja maior que por mim, e que só seja por mim quando vier de ti. Me livra de mim mesmo!

quinta-feira, outubro 29

Verde.

O fruto que desabrocha no meu âmago germinou mais uma vez. Essa cor maravilhosa que tinge de gosto sobrenatural o aspecto único de tudo que existe, mais uma vez exalou no ar que surge quando eu sinto a presença do teu olhar pensamentado sobre mim. Que estranha fabulosidade essa que sussurra tão suavemente no meu ouvido interno a palavra miraculosa que me abre o senso do pressentimento da tua proximidade.

quinta-feira, setembro 24

O buraco que abre para o que é desse mundo.

O meu pesar inflama e, ao tentar se despedir, desabrocha em carne e sangue. O teu triunfo regozija os vermes da minha escuridão, e a tua fome desperta a correnteza densa do meu amargor. Por que ouso te olhar, cumpro minha sentença. A sujeira que germina em mim é o teu fruto e a tua delícia. Mas no fundo da imensidão que cerca o vazio da tua presença, me ergo contra ti. Sou erguido contra ti. Não por vontade própria, mas pela vontade que me faz querer te derrubar; que me faz, apesar da tua insistência, reparar nos detalhes dos atos que se toma sem se querer. E querendo assim, não por meu querer, mas pelo querer de quem me torna escravo, posso assim escolher.
Serei então fiel à estrela que me gerou, e resistirei até o fim, porque os teus olhos continuam sobre mim, apesar da minha mudança de cor. Mesmo que a terra me engula e me faça sentir o peso que é existir sem o céu, não soltarei o barbante que me guia àonde tu estás.

segunda-feira, setembro 21

Eiffel, tinha uns do lado, bem rápido, e nós com medo.

Agora eu vou gritar; e quero que você me escute, cuidadosamente. Ali tem uma faca, e aqui tem um coração. Coração na faca, faca no coração, não aguento mais. Não aguento mais. Devagar, vamos repetir soletrando: A-té quan-do? Isso... um sorrisinho cínico, joão-bobo, joão-bobo. Larériró, eu sei que tu tem rabo e perna de cabrito. E toca aicila euq atualf asse. Eu não, ah, não, quero mais. Não quero mais ouvir essa melodia na minha cabeça. Aqui, aqui é o selo, o grande selo. Eu te exconjuro! Sinos, sinos, sinos, sinos, sinos. Bem devagar, não, bem rápido, sim, sim, não, não! Agora! Sem pensar.
Verde... foi um verde que passou assim, um fio. Um barbante de vapor, quase invisível. Um veneno. Toma forma, mil formas... que dançam. Amanhã no mesmo horário, é o silêncio. E o movimento do silêncio, e a luta, sem que eu participe. Mas como eles estão ocupados, eu posso ver. Vislumbrar.
Então, como sempre, uma nova fase. Vida nova, dias novos, sonhos diferentes... É isso que a gente quer, né? É isso que a gente quer?

quinta-feira, agosto 13

Aqui

*

sábado, julho 18

Lembrança.

Enquanto contemplo o silêncio da tua voz, a única que ressoa no que de mais íntimo há em mim, tropeço na armadilha que me oferece o fragmento do mundo que percebo pelos sentidos. Enquanto espero essa espera amarga das horas que se desfazem para o reino indefinido da memória, minha visão te procura em vão nas representações estáticas e mortas da comédia dos dias.
Até quando essa ânsia? Até quando essa aflição da incerteza de te encontrar?
Porque o que em mim eu cultivo é nada sem o teu olhar que o faz medrar; e o espaço que consegui escavar na caverna do que tu me deste a conhecer é pura e densa pretidão sem a luz da tua compreensão que me revela os detalhes da minha própria mágoa e derruba em terra o senso que tenho de mim mesmo, abrindo meus olhos para os teus.
E a beleza que em ti eu vislumbro excede à da galáxia de lágrimas que o sofrimento de todos os tempos cristalizou em teu oferecimento. E o que o teu olhar me revelou, jamais a reverência de coração algum pôde alcancar; pois tu, na tua limpidez, estendeste tua mão a mim, que andava sem consolo na cidade construída pela solidão, e me fizeste lembrar o que em meu coração fora esquecido através dos anos de sombra.

terça-feira, julho 7

O Selo da Audição

Antes que o céu derrame na terra pela comporta do mistério que rebenta em torrentes de lucidez e verdade, a vida do meu coração insiste em querer palpitar secretamente por ti desde o ínfimo esconderijo da criação no qual se aninhou, porque o meu ouvido pressente a tua chegada, mas não consegue distinguir a distância.

segunda-feira, junho 22

Do Diabo e da Esperança

Eu vou te pegar, ele me diz. Tu estás quase na minha mão. Vês? Como resistirás? Como suportarás a isso, sendo que tu mesmo me compreendes, e repete estas palavras? Basta eu te chamar, te mostrar o que podes ter, e teus olhos já se distraem, e se voltam a ti mesmo e ao que te rodeia. Tu não tens remédio. Vem e rende-te a mim! O que estás desprezando é a maravilha da criação! Olha! Podes ter no mundo o que quiseres! És livre, e te dou livre acesso ao que quiseres. Tu precisas de mim, não podes negar o meu sustento.
Então ele se cala por um momento, fica me observando, esperando por um movimento qualquer que sirva de exemplo para o que ele vai fazer em mim. Mistura as palavras dele com as minhas, prende minha atenção em algo, inverte o sentido, esconde a verdade, mostra possibilidades infinitas...
Eu não posso te calar. Confesso que tua astúcia me tenta, e fico sem saída. Mas não te dou a mão de bom grado. Não me rendo. Eu espero. Espero. E o amor que também em mim habita te afoga nessa fonte de águas amargas que está arraigada no meu íntimo, donde brotam então esses dissabores que exalam no hálito do meu espírito.
Esse amor que me surge na tua estação me desperta um sentido que me faz perder a mim mesmo. Que me esconde da minha própria visão e me derrama o céu destilado que brota como uma cachoeira da fenda que a minha impureza causou em ti. Esse é o meu pranto, o meu gemido, a minha ânsia que eu não consigo abafar. Eu tento traduzir esse grito que eu quero dar no teu ouvido pra que teus olhos se voltem pra mim, e me reduzam a nada, me façam perder em ti, mas não consigo. Não consigo. Então eu espero. Espero. Espero. E o desespero se faz esperança.

sábado, maio 30

Visão

As chamas que tentam invadir meu coração não podem me separar de ti. A doença que tenta tomar meu espírito não pode me fazer esquecer que tu esteves aqui. A marca que tu me deixaste, vou guardar até que passe esse tempo encoberto onde minha visão tateia no escuro sem definir a superfície que dá forma à tua face. E, estando aqui, o que me resta senão te procurar, ansiar por ti até que meu fôlego se acabe?
Não me distraia essa falsa luz que enche o mundo de infinitos detalhes que só nos fazem perder em ramificações de ramificações! Não se incline o meu coração à essas difusões; redemoinhos de cores sedutoras e falsas que formam a máscara do abismo. Que meu estro não se distraia, mas que se concentre em ti. No teu cerne. Na tua face.

quinta-feira, maio 21

Voz

No mais profundo esconderijo das águas que pairam no céu eu quero estar contigo. O anseio que eu sinto de te encontrar está acorrentado à um infinito que nesse mundo se chama tempo. Eu quero estar longe desse tempo, desse lugar. Quero estar em ti, quero que tu estejas em mim. O mundo é mau, o mundo me queima. Tenta me afogar com o espaço, me apagar com o tempo. Mas eu ainda tenho um restinho de voz, e vou enviar ela até ti, até o teu ouvido. Tu me escuta? Eu não consigo mais te escutar. A areia que escorre do tempo me enterrou e amorteceu a nossa conexão. A ilusão do espaço me cegou e fez com que eu me perdesse nesse labirinto.
Eu quero te encontrar novamente. Eu me lembro de ti. E o que eu sinto por ti não existe na minha memória, mas no íntimo do meu coração, que está longe, muito longe dessa sucessão de dias que me sequestram enquanto estou acordado. E eu declaro guerra. Vou romper com o tempo. Romper com o espaço. Nem a música das estrelas, nem a sutileza da inteligência angélica vão me seduzir. Vou me desprender e voar àonde tu estás.

sábado, maio 9

A Vicissitude

A cada momento eu canso de esperar. Perco a esperança do fato de tu ainda teres esperança em mim. Perco a visão do invisível. Do princípio que separa o céu da terra. Meu âmago vira uma matéria informe e é vomitado como uma massa densa e escura, que, se olhar bem de perto se encontra o que é quase nada.
A cada momento me achego à beira do abismo, e me assusto. Lá estão as trevas. As trevas que um dia pairavam sobre ele, quando eu ainda não te conhecia, e tu já te inclinavas sobre a superfície do oceano no qual eu ainda estou mergulhado.
Eu te suplico, palácio da eternidade, que me desprendais dos laços do tempo, e que, ao cruzar os teus portais, tu me libertes da carne que eu carrego; pois turva é minha visão do céu enquanto ainda estiver acorrentado à terra. Eu anseio pelo teu reino, imerso em luz verdadeira, luz sem sombra.
Mas onde estás? Se estivesses em outro lugar não seria céu, seria terra. Tu estás aqui! Tu habitas aqui! Por que eu anseio tanto pelo não aqui? Onde eu estou? Quando estou aqui, onde tu estás, eu vivo; mas quando estou aqui, onde tu não estás, eu espreito esse abismo escuro, que é a morte.
Mas, ao contrário, ao contrário, ao contrário, quando a face do abismo for selada, quando este momento já passou, chegará a hora sem mais momentos, mas sim, o que no princípio foi pronunciado, e que perdura longe do tempo, no momento da eternidade.

sábado, abril 4

Espera.

*

segunda-feira, março 16

O leão.

A maldição me cerca. Me caça. Me pega, me morde e me destila veneno. E no mesmo momento que eu perco a força e me entrego, abro os olhos pro horror que ocorre. Eu vivo ao lado de um leão, e guardo dentro de mim a carne de que ele tem fome.
Um leão. O horror. Uma boca gigantesca com um hálito fétido e enormes dentes amarelados e pontudos. Ele ruge. Ruge um rugido grave e assombroso que se ouve há quilômetros. Uma só patada me derruba no chão, e uma só mordida me rasga a carne. Mas ele não me mata, me deixa ali sangrando, na boca dele.
É nessa hora que eu me sinto longe de ti. E é nessa hora que tu me olha, e chora. Como é que eu vou te chamar nessa hora? Que voz tenho eu nessa hora? Não tinhas tu me deixado uma arma contra essa fera? O que é que eu fiz com a arma que tu me deste?
O leão lança um feitiço. Um feitiço que me cega pra verdade e me desperta pra ilusão. Então eu começo a ver beleza no sonho do mundo. Não beleza, mas uma combinação de sentimentos que fazem parte da ilusão que o feitiço causa. Mas eu posso observar sem cair nele. Enquanto eu observo a ilusão ainda me seduz, como um caleidoscópio de imagens se movendo numa superfície, me convidando a mergulhar nessa fantasia. Ali pode existir um mundo magnífico, desconhecido pra mim, eu só preciso mergulhar. Mas algo me impede, eu tenho receio. Sei que não devo. Mas continuo olhando, sendo atraído. Então consinto o movimento, resolvo dar uma olhadela dentro da superfície. É um mundo de magia, já estou cego, não me seguro mais, pulo pra dentro, não sei mais quem sou, me perdi.
Nesse mesmo momento sinto aquele hálito que me abocanha. Toda a cor desvanece. Toda inocência se perde. Era uma armadilha na qual eu me deixei cair.

segunda-feira, março 9

Hoje

O tempo em mim é apenas espera. Só a tua mão pode me levantar acima dessa desavença entre o que passou e o que virá, sendo que ambos, não importando a distância do ponto em que se encontram em mim, estão no mesmo lugar: a não existência.
Quando eu não participo do teu hoje, não encontro em mim esse ponto que emerge à superfície do imenso vazio que são os dias e as noites.
Antes que eu te conhecesse tu me notaste, e te fizeste notar por mim; e desde então eu te amo. E vi que o que eu antes amava, quando a tua presença ainda estava submersa em passado e futuro num emaranhado de anos, era a ânsia de que chegasse o momento em que eu te descobriria.
E no enleio daquela escuridão o teu olhar me desvelou a luz do eterno hoje. Do teu hoje, que é o anelo do coração que aqui pulsa no nada dos séculos.

quinta-feira, março 5

Palavra.

Quando tu me disse o que tu me disse, não foi como uma flecha que o tempo pronuncia, e depois perde a força nessa galáxia que é a memória, e cai no mar de um milhão de palavras, semelhantes entre si. Não, quando o meu ouvido reconheceu a tua voz, o meu coração estremeceu de uma maneira assombrosa; teve o vislumbre de algo que não é desse mundo. E desde então, foi como se tu me tivesse aberto uma porta pras coisas que são eternas, que estão num momento que sempre existiu, e que pra sempre vai existir, longe dos dias e noites que aqui se esvaem. Quando eu entro em sintonia contigo, algo muito, muito diferente passa a fazer parte de mim. Até assusta. A tua voz permanece em mim. Aquela palavra que tu disse me ressoa num estrondo indizível que me transporta prum ponto que tá acima de tudo o que passa.
Quando tu me olha, tu me despe de toda a imundície que, ano após ano, século após século, a lama desse mundo me impregna. Quando tu tá aqui comigo, a verdade me salta aos olhos, e eu sinto um chacoalhão que me desperta do torpor que a ilusão da vida provoca. Eu não quero mais me separar de ti. Qual é o momento em que tu te afastas, e eu não percebo, e caio pra ter um corpo outra vez? A luz que eu sinto quando eu to contigo não é minha. É a tua presença que me inunda e me mergulha em amor sobrenatural. Eu não posso pensar em outra coisa, eu quero te sentir aqui dentro. Sentir que tu existe.
Mas não é tu te afastas de mim. Fui eu. Fui eu, que pelo peso imundo desse corpo me desviei de ti pra cair no mais profundo abismo da minha miséria. Oh, céus dos céus, o que farei eu naquele lúgubre momento em que essa sórdida volúpia me alicia com pérfidos embustes imaginativos me arrastando pra longe do meu único amor? Trovejai em mim, céu, pois sou um hipócrita.

sexta-feira, fevereiro 27

Devolução

Pronto. Eu te devolvo tudo. Não quero mais nada. Não vou mais me esconder. Mas como eu poderia me esconder de ti? Se eu me escondo é de mim mesmo; vejo a mim mesmo num espelho quebrado... Mas eu não tenho outro, e também não quero mais olhar. Não quero mais ver a mim mesmo. Quero ver a ti, quero ver o teu rosto. Quero ver os sentimentos mais sutis que transparecem na limpidez da tua face, onde não pode ser vista sombra nenhuma, nenhum pensamento obscuro. Só a verdade. Eu quero a tua mágica. Quero te visitar todos os dias onde tu vive, e quero te falar do meu amor. Eu quero que tu sinta o meu amor, o meu único amor que é só teu. O silêncio e a escuridão desse mundo não me atraem mais, e não vou mais ser envolvido nessa armadilha. Eu vou pular nesse penhasco, não vou só ficar olhando.

A tua voz grita dentro de mim, e o mundo tenta me ensurdecer. A tua face resplandece nos meus olhos, e a treva do dia tenta me cegar. A tua mão ultrapassa a superfície desse mar no qual estou mergulhado, mas eu não alcanço, porque meus pés estão encalhados no fundo desse oceano de carne que é o corpo. Eu vou escutar a tua resposta. Vou escutá-la nos meus próprios lábios. Então vou gritar, gritar. Mas até eu ouvir com clareza só o que eu posso é balbuciar e gemer. Mas vou gemer com vontade. Quero sentir, cavar, olhar de perto, seja o que for. Quero me entregar, quero ser essa cara feia que me espreita, e então poderei te dar um pingo de sinceridade.

Sai de mim, voz do mundo. Afasta-te de mim. Não sou daqui. Não quero te conhecer. Não quero saber o que tu acha nem como tu me vê. Nunca poderás ver a mim, onde estou. O que vês é uma representação tosca em massinha de modelar barata. Essa matéria é tua, pode pegar; essa parte de mim eu ofereço de bom grado. Em alguns dias vais sentir o cheiro da podridão, essa podridão que és tu, sem a ação das mãos que te moldam. Tu, mundo, nunca verás a substância verdadeira, nunca compreenderás essa vida que te anima, pois não pertencem à mesma natureza. São contrários. Eu sou o teu vínculo com ela, mas te desprezo. Te desprezo por que és baixo e queres coisas baixas. E conheci a vida. Ela se ofereceu a mim quando desviei os olhos de ti. Desde então meu coração não é mais teu. Desde então me contorço pra me desvencilhar de ti e arrancar as raízes que fundaste em mim. Eu vi outra face. A tua face. A tua face que me traz a lembrança do que ainda está por vir. Não vou mais ouvir o mundo. Quero ouvir a ti. Só a ti. Pra sempre.

terça-feira, fevereiro 17

Tu me olhas, e resisto.

Quando tu não me olhas eu só vejo a mim, e quando eu vejo a mim a escuridão me cerca e me sinto observado por ela. Quando tu não me seguras o mundo me domina, controla as minhas ações. Onde está aminha vontade? A minha vontade não está em ti? Por que a minha vontade cai para as coisas visíveis quando te afastas? Te afastas realmente? Eu quero que só tu me olhes, porque só tu me conhece. A vergonha que eu tenho de existir me afoga dia após dia. Tudo que é do corpo me repugna e me asfixia, quando não posso me achegar a ti. Me olhas agora? Me observas de um esconderijo? Onde estás quando não te vejo, se é a tua presença que me faz escrever? Será que tu és apenas na minha lembrança?

Por que resisto a ti, quando me amas de forma ordenada? O meu amor é desordenado e busca alcançar o que não consegue. Eu preciso que me coloques num caminho, que me faça esquecer e que distribua armadilhas, para me capturar, pois meu coração é traiçoeiro consigo mesmo. Resisto a ti por que me amas com amor maior que o meu. Por que não consigo penetrar as tuas profundezas sem que me leves pela mão. Resisto por que caio, caio em mim mesmo e me engano, observando meu reflexo na fonte límpida da vaidade. Tu me olhas, mas não te vejo por que resisto a ti. Sobretudo, sei que me olhas.

segunda-feira, fevereiro 16

Onde tu estás?

Eu preciso ouvir a tua resposta. Eu preciso que tu grites o tão alto quanto puderes pra romper a surdez que esse mundo me causa. Me joga uma corda, por favor. Eu vou me agarrar com todas as forças e fechar os olhos até que tu me puxes pra perto de ti. A saudade que eu tenho de ti é infinita, é atemporal. A vontade que eu tenho de que vires os olhos pra mim é maior do que tudo, pois está contida aqui, onde eu te encontrei, onde absolutamente não há o espaço. Onde eu te encontrei? onde tu estavas quando eu te encontrei? O que nos separou? Onde está essa lembrança que eu tenho de ti? Onde tu estás?
Eu quero denovo o doce mel da vida que verte da fenda do teu coração. Fenda essa causada por mim, por nós. Foi minha a causa da nossa separação. Sim foi minha. A culpa é minha. Por isos é minha agora a vontade de reconhecer. Eu preciso que me olhes. Você não está me ouvindo? Eu preciso que me olhes. Eu me entrego. Me sonda. Eu quero te revelar cada esconderijo que eu criei na tua ausência. Eu quero que tu me reconheças.

O espaço é nada quando estás comigo. Mas quando tu me esqueçes eu fico abandonado num imenso vazio. Eu não quero me perder nas visões do mundo. Eu não quero ouvir essa mentira, não quero assistir essa representação. Eu quero estar contigo dentro da tua verdade. Eu abandono tudo o que não seja tu. Tu me basta por que tu acaba comigo, me faz ser tu. A tua mão na minha é a segurança que eu preciso. Os teus olhos nos meus me abrigam de todas as vaidades. Olha pra mim. Desvia os meus olhos desse mundo. Eu não quero mais nada, mais ninguém. Eu quero que tu me encontres.

Se tu me disseres que as estações nunca se repetem, que o caminho no qual eu te encontro hoje não é o mesmo, e que o encanto que exalava outrora hoje tem uma cor diferente, e que o coração que palpitou em mim já não encontra abrigo em palavras, mas precisa de um calor diferente; se me disseres isso eu te vomito e te cuspo silenciosamente, por que nunca te conheci. Te expulso do meu lado por que és um impostor, me olhaste através de uma máscara. Me deste de beber água podre, envenenada. Faço uma marca na tua testa pra nunca mais me aproximar de ti e te reconhecer de longe. Te enforco dentro de mim e jogo o corpo no abismo que separa meu mundo do teu. Se fores assim meu coração pra ti é de ferro, meu sorriso e minha face serão os de uma estátua com olhos de vidro, vazios e frios como a mão que recusastes estender-me.

Mas se tu és a fonte imutável das lágrimas que me visitam, que esteve sempre aqui, então eu me ofereço a ti, pois sou teu. Abro meu coração a ti, pois por ti o cultivo. Te dou todo o meu amor, não menos que todo, por que ele é teu. A tua existência o criou. A tua presença o fez surgir.

domingo, fevereiro 15

Não quero mais esperar.

Eu quero sentir o cheiro da Primavera que desperta no início do Inverno. A Primavera que brota dentro de mim quando eu dou por conta que estou vivendo uma época inédita, que nunca foi vivida. Eu quero conhecer a mágica que transforma o mundo, e quero espalhá-la no espaço que me une a ti. Quero acabar com essa distância que separa; quero sentir que ela inexiste pra tudo que se conecta. Não despreza o coração... é só o que tu tem; o resto é lixo. Quero te dizer que aqui onde estamos ninguém pode chegar. Ninguém vai interferir no nosso amor. O amor que tudo consegue ver, que a tudo desperta e suspira palavras inefáveis ao ouvido que eu e tu temos juntos, aqui dentro. Eu não quero mais te abandonar. Não me abandona. Quando eu te sinto eu me sinto, e não quero me esconder, e não quero que tu se esconda. Vamos dar as mãos. Mais uma vez.

Me liberta das trevas do meu pensamento. Me inunda com a tua presença pra que eu possa te ver e estar contigo. Olhar nos teus olhos e sentir a tua pulsação dentro de mim. Me une a ti dessa maneira inexprimível, onde as nossas intenções se procuram e se encaixam formando um só corpo. Me leva desse mundo, me guarda junto de ti e me segura quando vier o vento, porque eu não quero mais me separar; não quero mais me perder; não quero mais cair.
Eu só quero saber da tua verdade. Quero que a tua verdade seja a minha, pois tudo o que for, sem ti é falsidade. E sem o teu coração, o meu vaga em profundeza sombria e não sabe o que faz. Ingere porcaria.

sábado, fevereiro 14

O tempo é nada

O que eu tenho no coração?

Acho que tenho muitos esconderijos que me causam uma cegueira e uma surdez que não me deixam chegar à ti. A partir de agora eu me proponho a classificar e ordenar o que eu tenho aqui, pra que eu possa talvez descobrir o que está encoberto e, pouco a pouco, remover a maldição que me cerca.

Cassificar e ordenar?

Como é que se faz isso dessa maneira... endurecendo, secando e passando verniz nessas palavras que moldam de forma incompleta o significado que carregam? Acho que seria melhor então me entregar... me render ao mundo... Mas isso seria tolice... já que eu me propus a tentar expor algo aqui... Talvez então eu tente observar os dois lados e entregar cada um deles nas entrelinhas que eu nem consigo captar...

Bom, mas o que eu quero dizer é que o tempo não é nada perto do coração, que contém as coisas imutáveis e transforma o que há de vir no que sempre foi. Mas tem um truque nessa vida... uma peça que o tempo prega que engana os corações. Uma maldição que dá espelhos deformados aos pobres-coitados e os encerra em esconderijos.

Eu vou te pegar Sr. demônio que joga esse feitiço. Quero te filtrar e te mostrar aqui, pra todos. Eu quero me humilhar, me esmagar no chão com a sola do sapato... quero me jogar pro céu e quero gritar; tudo pra te mostrar... só espera pra ver...

Eu to me mostrando né? Tu não me pega, eu to te mostrando. Eu vou te entregar.

É, e entregando ele eu vou poder te reconhecer com olhos desvendados. E te conhecer é tudo o que eu quero, eu quero te ver, por que eu te amo. Eu te amo em todos os momentos. Eu te amo por que eu sei que tu me ama. E tu me ama mais do que eu te amo por que se eu me esqueço de ti achando que tu não tá mais ali, tu vem e me envolve na tua atmosfera que dá aquele gosto diferente e novo em tudo que eu sinto. Eu quero te buscar e te reconhecer também na minha memória, onde tudo tá guardado em esconderijos... Quero ver a tua face me olhando em cada momento que passou e quero me entregar a ti, por que o meu coração te pertence.

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